quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Atualizando

Tive um pequeno nervous breakdown
Quando pensei que o Antônio não mais teria necessariamente uma casca, materializada, explícita, me joguei um balde de água fria, uma vez que o que estava criando e concebendo mental e corporalmente já não seria usado. Não que vá abandonar, não quero jogar as coisas fora, mas isso muda a perspectiva de construção da personagem. Vi que a doença já está nele, já é ele. A forma que ele sempre agiu desde criança e continua agindo com os outros, sua visão de mundo, as ideologias (ou falta de), os preconceitos, a imensa preocupação com a imagem que projeta - tudo isso é a cascaridíase.

Acho que foi na segunda-feira, aquecemos a partir dos chakras e cheguei a lugares que considerei ótimos. Falei o texto das árvores com meu corpo todo tensionado de uma forma que me satisfez. Em outro momento, falava do cheiro das putas, do cheiro de perfume barato, também totalmente entregue e seguro. Todos estávamos explorando ao mesmo tempo, chakras, reverberação no corpo, movimento, voz, textos (normalmente o - eu não tenho paciência pra incompetência, pra gente burra). Depois, cada um teve um momento individual e nos foi pedido que quando chegasse a vez de cada um, que apenas disséssemos o texto, ou seja, que não construíssemos. Era pra coisa brotar, do vazio. Mas na minha vez, já havia construído tanto, tinha tantas coisas na cabeça que fiz o improviso, mas com uma péssima escuta. Não vi ninguém, não ouvi direito, não usei o texto que havia explorado, até tensão nas mãos me deu - coisa que há muito não se passava comigo. E também fui para um lugar de interpretação que não me considero bom. 
Depois, em roda, relatei que sentia que quando saía da minha fisicalidade e ia para um lugar mais realista, verossimilhante, brochava, não me saía bem. Então a Giselle me perguntou por que eu não retomei a fisicalidade na hora da investigação individual, se sei que nela está minha potência. Hum, boa pergunta. Conversando com o Marcelo pensei que poderia ser pelas altas expectativas que criei sobre o resultado e por ter ido demasiado cheio. E aí está o desafio -  conseguir resgatar ou acessar no momento da cena o que surgiu e foi potente no pré-expressivo. Que mecanismos, aonde está no corpo, que impulsos...? Preciso guardar, aprender a registrar para depois retomar e executar a cena utilizando o meu forte, e manipulando a interpretação a partir desse lugar forte. Não que seja incapaz de fazer uma interpretação realista, mas sinto que quando parto da fisicalidade é muito diferente, e quando vou direto pra cena, desanda. Nem que seja mínimo, não dá pra ir no seco.
O vazio tem se mostrado uma possibilidade de foco para minha monografia e quero trazê-lo mais à prática. O vazio para o improviso e a criação.

Enfim, fora isso, hoje ausente dos ensaios por motivos estomacais e alérgicos (como é psicossomático! - no caso de Antônio sua perversidade aparece na forma de coceiras, de pequenas cascas que tenta esconder), escrevi dois pequenos textos seguindo a ideia das narrativas dos personagens sobre os outros e sobre si mesmos:

Antônio sobre si:
O que eu tenho a ver com a pobreza do mundo? É minha culpa se tem mendigo na rua? O que eu tenho fui eu que ganhei. Eu construí a minha vida, o meu sucesso, minha prosperidade. Não sei se tem lugar pra todos aqui. Ando preferindo nem sair de casa, mando a Susy resolver minhas coisas. Eu fecho a janela quando abordam meu carro. Fecho. Me sinto ameaçado. Fui ao supermercado e na saída umas crianças vieram me pedir dinheiro, e eu tenho que dar né, porque senão vão riscar o meu carro inteiro. Eu já faço minhas doações pensando que eu não vou ter que passar por isso, mas parece que não adianta fazer a sua parte. Eu trabalho pra ter o que eu tenho. Se neguim não trabalha, fica coçando o dia inteiro, depois não vem reclamar... vai construir sua vida.

Me inspirei em um trecho do documentário Four Hourseman:


A ideia era: constrói a tua própria vida, sê individualmente ambicioso, e então terás sucesso individual, e serás individualmente próspero, e então serás individualmente feliz. Acabas sendo tudo isso num frasco de vidro e o frasco de vidro tem uma altura limitada, e é hermético, e no fim vais morrer com falta de oxigênio

Antônio sobre Susy:
A Susy se mudou aqui pro escritório há algum tempo. Eu acho que ela tá bem. Cobrança sempre vai ter... Pra ganhar o que ela ganha tem que ralar mesmo. Eu sou exigente, mas não maltrato funcionário. O que eu reclamo é da aparência. Um regimezinho não ia mal, né? Se ela fechasse um pouco a boca, já ajudaria. Agora parece que ela gosta mesmo de comer aquilo. É uma porqueira em cima da mesa... Realmente eu vou diretinho pro céu. Eu poderia ter a secretária que quisesse, e é a Susy que tá aí. E muita gente queria estar no lugar dela, ganhando o que ela ganha, é um emprego ótimo. Talvez se ela arrumasse um namorado, trepasse de vem em quando, melhoraria aquela cara de bosta. Mas quem vai querer um bujão daquele? E com puta ou muchê ela não quer, já ofereci. Enfim.

Precisam ser melhorados.

Também numa pesquisa rápida achei dois looks para figurino. Gostei do preto e das diferentes texturas e tonalidades. Tenho usado uma roupa x nos ensaios, mas quero começar a definir melhor. O tempo urge.




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